domingo, 8 de março de 2009

A Igreja e o estupro de crianças

Definitivamente não é de hoje que a Igreja assume posições discutíveis em relação a casos de abuso sexual de menores. É claro que toda posição sobre qualquer assunto é discutível, afinal ninguém é dono de opinião infalível e absoluta. O problema aqui é que, talvez, essa seja a grande falha da Igreja: não abandonar a idéia medievalista e maquiavélica de propriedade da verdade irrefutável e da corretude incontestável.

Desde a antiguidade - "Meu" Deus! Já nascemos sem o trema - alegando uma espécie de outorga divina a Igreja tenta monopolizar o censo de correto, ditando o que se pode e o que não se deve, e eventualmente o que se deve e o que não se pode.

O aborto talvez seja um dos pontos mais bem ponderados de nossa legislação. A lei nem atende a vontade dos mais liberais, que alegam ser da mãe o direito de abortar quando desejar, mas também não se alinha com a Igreja, que refuta qualquer forma de aborto, argumentando ser este uma forma cruel de eliminar uma vida indefesa.

Ou seja, o que os médicos e os pais da menina de Pernambuco fizeram foi exatamente o que a lei diz:

Código Penal - CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA

"... Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal ..."

Um representante da Igreja equiparar este tipo de aborto com um "holocausto infantil", ou mesmo interpretar o "mal-necessário" do aborto como um pecado-crime maior que o do padrasto-monstro-criminoso soa de forma muito assustadora. Não é isso que se espera de um líder religioso. Mas, apoio às barbaridades que este representante disse e uma posição intransigente da Igreja ecoa de forma muito pior na cabeça de quem ainda tem estômago para ler sobre o caso. Seria muito mais natural repudiar o o comportamento do padrasto, e oferecer amparo aos familiares e à vítima, mas, se assim fosse, a Igreja estaria assumindo precocemente o erro em posicionar-se contra qualquer forma de aborto.

Desde os tempos a Inquisição até o dia em que um papa se desculpou dos atrocidades cometidas levaram-se cinco séculos. Ou seja, talvez em 2500, a Igreja reflita melhor, e altere seus valores, interpretando melhor a severidade de um abuso sexual infantil (eventualmente cometido por padres), um aborto amparado na medicina e na legislação de um local.

Então até lá, oferecemos humildemente asilo religioso a todos aqueles que foram excomungados neste e em outros casos semelhantes. E desde já, excomungamos do nosso movimento, todos aqueles que mantém opinião alinhada com a da Igreja.